quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Travessia 2014/2015 - NATAL

Se   a   noite   está    escura,
E no caminho há escombros,
O   teu   JESUS   te    segura
E   te  carrega  nos   ombros.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sombra refletida

Passo a passo
Vou pela estrada.
Pés descalços
Pisando nada,
O silêncio das flores
Esse espinho que me fere.
Nos braços as dores!
Não me esperem.
Na garganta um nó
Que me dói tanto.
Vou só
Engolindo meu pranto,
E  eu não volto.
Não perguntem mais por mim.
O grito que não solto
É sem fim.
Apenas minha sombra
Se reflete,
Cambaleia e tomba
E se repete
Na contramão
Dessa luz que ainda me leva
Nessa vida em vão
Túnel de infinita treva.

Raízes

Varas se silêncio 
Escoram as árvores
Que se retorcem ao vento,
Enquanto os pássaros
Flutuam nas nuvens 
Que bóiam na luz morna
Que se entorna
No entardecer.
A sombra dos meus olhos
Rendeia o espaço
Com fios de tempo,
Com fios de lã de chuva
Tecendo a renda da tarde
Que veste de gorjeios
Dos passarinhos
E do piscar de vagalumes,
O horizonte infinito
Da minha solidão.
O cheiro do capim-meloso
Entra pelas minhas narinas
Com gosto de planta verde
Brotando da mão do Criador.
E o eu-criatura 
Respiro esse chão-natureza
Como o extrato virgem
Da própria vida.

domingo, 26 de outubro de 2014

Noite em Brasília

 Os minutos transparentes
Batem na vidraça
Como enxame de insetos
Que se estilhaça
Dentro dos meus olhos.
As horas se quebram
Como pedras
Como meteoritos
No abismo vazio
De mim mesmo.
O tempo em silêncio
Leve como o vento
Disfarça os açoites
Que marcam meu rosto
E depois foge na noite
Na carruagem da morte
Rumo ao infinito
Rumo ao nada.
As luzes se banham
Nas teias de aranha
Nos fios da chuva
Colares de prata que brilham
Planalto-Brasília.
E o relógio bate
E o ponteiro reparte
O eco que ondeia
Meia-noite e meia.
E o silêncio infecto
E  a  s o l I d ã o
Pingam do teto
Em monótonas goteiras
Que alagam a casa inteira.



domingo, 25 de maio de 2014

Cachoeira

A cachoeira
Em cacho
Coaxa
Pedra abaixo.
A bruma turva
E as bagas de chuva
Trincam o silêncio,
Cristal de grilos,
Peixes
Em feixe,
Esvoaçam em escamas
Na cama da correnteza.
Lembranças, relembranças
Rebrilham e refletem
Na espuma das águas
E sintilam nas lágrimas
Que escorrem
Nas pedras enrugadas
Do meu rosto.
Um soluço de juriti
Chora no meu peito,
Que em redemoinho
Me mói e me dói
Nesse pé de cachoeira
Que me afoga,
Nessas águas-nessas mágoas.

Quando

Quando eu era criança,
Carregava no colo
Um buquê de sonhos.

Quando na juventude,
Carregava nos abraços
Um buquê de paixão.

Sempre carreguei no peito
Um buquê de flores e sonhos,
De paixão e esperança.

Hoje, meio desiludido,
Continuo minha caminhada
Carregando no colo,

O um feixe de flores murchas,
Um feixe vazio de sonhos e paixão,
Um feixe vazio de esperança.

Agora, sem rumo, procuro a vida,
E sigo, carregando no colo
Um buquê de dores.










sábado, 24 de maio de 2014

Eu

De manhã,
Caíram as pétalas da minha infância
Simplesmente caíram sem desabrochar,
Caíram sem cor e sem orvalho,
Sem sol e sem manhã, 
Caíram sem amanhecer
Dentro da noite, dentro da vida,
E apodreceram no meu chão.

Ao meio dia,
Caíram as pétalas da minha juventude,
Simplesmente caíram desabrochando,
Caíram orvalhando-se,
Quando amanhecia
Dentro do dia,
Dentro da vida,
E apodreceram no meu chão.

Ao entardecer,
Hoje, meio desapontado,
Fico regando a vida despetalada,
Com o amor e a água,
Que se misturam à seiva da flor
Que apodreceu nas próprias raízes.


Luar

Agora,  faz  silêncio  no  meu  peito,
Ouço  apenas  os  passos   macios
De uma saudade que vem,com jeito,
Pisando o chão de meus braços vazios.

Agora, o  meu rosto  não  tem  brisa,
Agora,  minha  noite   não  tem  Lua,
Apenas    sua   lembrança    desliza,
Na   intimidade   da   minha   rua.

Agora, minha boca não tem beijo,
Em meus olhos se tece a fantasia
De tudo o que sinto, mas não vejo.

Sim, você chegou, é o que importa,
Vamos  lembrar  o  luar  que   fazia!
Entre!  Deixe  que eu fecho a porta! 





domingo, 18 de maio de 2014

Tempestade no mar

É   calma,   muita  calmaria,
Mas, súbito a   onda cresce
Nuvens negras cobrem o dia,
O  vento  ruge,  escurece ...

As vagas fremem como fera,
Saltam, avançam, escoiceiam
A   proa   altiva    da   galera
Que afunda, range e se alteia.

O  mar  dança  pra  todo lado
Como um Netuno embriagado,
Nas águas que se encapelam.

E  a  nau  bandeia  e  caturra
Feito  um demônio  que  urra
Sob  os  açoites  da  procela.

domingo, 4 de maio de 2014

Um dia...

O amor rói
Carinhosamente 
Dentro do peito
Enquanto existe.

Um dia, o amor 
Construiu um ninho
Dentro de mim
E você veio se aninhar
Como um passarinho.

Mas o mesmo amor
Um dia, desfez o ninho
E você e os filhotes
Saíram em revoada
De dentro do meu peito.

O amor dói
Silenciosamente
No peito vazio
Quando não mais existe.

Então meus olhos turvos
Molham a linha do horizonte,
Enquanto vou escavando
O chão do céu
Tentando encontrar
Aquele amor
Que me roía carinhosamente.

Mas encontro apenas
A solidão 
No infinito de mim mesmo
Onde ecoa, golpe a golpe,
As batidas tristes
De um coração cansado
Que apenas se debate.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Anoitece

Anoitece
Parece prece
O trilar dos grilos,
O coaxar dos sapos,
O matracar das pererecas,
O grito da saracura,
O cigarrear das cigarras,
O entardecer,
A boca da noite.

O canto dos bichos
Alumiam o jardim,
Como reflexos de estrelas,
Mas o céu está apagado.

Por entre as flores,
Estreleiam os vagalumes,
Pequeninas estrelas
Que ecoam
No chilrear dos passarinhos
Que se aninham
No dormitório da mata.

Então 
As gotas de orvalho
Começam a brilhar
No céu dos meus olhos.

Gaivota

A gaivota
Se solta 
De volta em volta
Na tarde
Que arde
Ao sol 
Girassol
Do verão.

Pequena
Leve como pena
Voa, avoa,
Na leve brisa
A toa
Levitando leve
Ultra-leve
Ao vento
Esvoaçar de penas
Apenas
Pensamento...
E voa suave
A leve ave
Como nada
Dessa vida alada
Que vai
Que voa
A toa 
Como ave...
Pensamento...


O timoneiro

O   timoneiro   de   serviço
Sempre de pé no passadiço
Segura   firme   o    timão
Com a alma e com a mão.

Frente à proa em mar medonho,
As ondas ,se fazendo sonhos,
Marulham   o   tempo   inteiro,
No   coração   do   timoneiro.

De olhos fitos no horizonte,
O   timoneiro  não esconde
A   esperança   de   chegar,

Chegar com o navio seguro
Até   o   porto   do   futuro
Que  existe  depois do mar.

domingo, 20 de abril de 2014

Lembrança de Guarapari

O mar
Imenso mar
Seja como for
Amar...
A onda na praia,
A barra da saia
E o amor
Doce dor
Que se quebra 
Nas pedras
Do meu peito.
O marasmo, 
O orgasmo,
O espasmo
Pasmo...
Só a luz da Lua
Veste
A moça nua,
E tece
Manchas de sol
No lençol desfeito
Feito as ondas,
A macia espuma
Da maré cheia
Que vem nos beijar.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Libertação do amanhecer

Dentro da noite,
Uma paineira gigante
Espana o céu
Tirando as teias de aranha
Que aprisionam as estrelas.
Madrugada... Silêncio...
E tudo fica pronto,
E o céu está limpo,
E as estrelas, livres,
Voam pra longe.
A noite morre,
Num gemido agonioso
De boi acordando o sertão.
Então o dia brota do canto de um galo 
E ,como um criança travessa,
Monta num sol de cinco pernas,
E galopeia pelo céu a fora.


Esperançando

Postei-me antes do monte,
E fiquei a olhá-lo.
Era quadrado, duro,
Era um muro.
Não, não era monte,
Nem era muro,
Era imaginação.
Não era eu a olhar,
Era uma estátua.
Nuvens negras vinham subindo,
Subindo lá de trás.
Várias luas brancas
Como moedas de prata
Que se refletiam na minha estátua
Foram caindo uma a uma,
Lá adiante, sem barulho.
Então a noite veio chegando
Lentamente órfã de luas.
Era eu rico de desesperanças.
Passaram-se milhões de tempos
E eu, estátua, a cismar,
Fui me transformando,
Amolecendo o mármore dos músculos.
Sempre fitando o horizonte,
Comecei a andar,
Depois, a subir o monte,
Escalar o muro,
Pra ver minhas luas caídas.
Mas tudo foi em vão.
E, quando menos cuidei,
Lá no horizonte
Por detrás de mim,
Um rebanho de luas
Vinha amanhecendo 
Prateadas, douradas.
Parei, imaginando.
Além do monte, só o nada,
Aquém do monte, a vida,
E dentro da vida, a esperança.
Então no topo da montanha,
Comecei a edificar uma escada,
Para eu alcançar as luas
Quando passassem por mim.
Assim fiz.
Roubei-as do céu
E pintei-as de verde.

O trem

O trem partiu no tempo.
Ringindo, rangendo, rolando
Rodam rodas rosadas do trem
Por campos, montes novidades.

Pessoas, pontes passando,
Prados postes correndo
E o trem alegre cortando
Vales da minha esperança.

O sol no poente caindo,
Balança seus mil braços,
Num adeus de entardecer,
Para o meu trem que vai.

Lugares, tempos, meu lar,
Ventos, cantos poemas,
E a infância ficou pra trás
Do meu trem do futuro.

domingo, 6 de abril de 2014

Ano Novo

No Ano Novo
O sol nasce como gema de ovo,
E o fogo de sua face
Clareia a clara
Branca como a paz,
Tão pura, tão rara,
Que se faz em vôo,
Lento como nuvem,
Leve como ave,
Vento, algodão...
A luz lava o céu,
Enquanto a brisa leva
A esperança 
Pra dentro do Ano Novo,
E a ave da paz
Para fora do ovo.

Estilhaços

Pedaços de saudades,
Sapatos espalhados,
Estilhaços de sonhos,
Porta-retratos
Se espalham pelo chão da sala,
Como cacos de cristais
E de porcelanas.

Espelhos , imagens tortas,
Minha vida em reflexo,
Fotos em preto e branco,
Marcas, sombras de passos,
Cambaleando pelo chão
Vão indo em vão
Pelos vãos da noite.

Relógios e ponteiros
Sangram os minutos
Que vão morrendo um a um,
Escorrendo pelas paredes,
Enquanto me afogo
Nesse lago amargo
De silêncio e solidão.

terça-feira, 25 de março de 2014

Viagem de submarino

Como um peixe gigante
Negro   a   espadanar,
Pejado de navegantes
Vai afundando no mar.

E lá no ventre marinho,
Em silêncio a navegar,
O nauta  se faz menino
E  começa  a  sonhar:

Sonhar Jonas  que  vagueia
Em  um   ventre  de   baleia,
Sem um norte que o governe,

Sonhar  com a  fantasia
Que  outrora  sempre lia
Nos livros de Júlio Verne.

Nada

Aqui jaz
Mais um momento
De mim mesmo.
E o canto do vento
Ao esmo
Me adormece
Em paz.
Já não vejo
A vida,
Já não sinto
A morte,
Já não sou
Nem o que fui.
Sou apenas 
O pó desse verso
Que se desfaz
No universo do nada.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Vôo da vida

Paz...
Silêncio...
Solidão...
Pássaros no ar
Voando leve...
Levitando livres
Como o pensamento
Concreto como esse momento.
E ,passo a passo
O tempo passa,
Leve como nada
Levando tudo
Passo a passo
No compasso
Do passo,
No espaço do vôo,
Como pássaros
Passarinhos
Passarada,
Todos passarão
Todos passaremos...


Nuvem

Estou só...
No peito, um nó
Não há lágrimas
No deserto do meu rosto.
Não há magma 
Não há nada
No vulcão do meu peito.
No céu ,
Um penacho de fumaça
Ao vento
Ao tempo
Feito um sonho desfeito
Que vai ...
Que vai...
Se desfazendo
Como a vida.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Meu Rio Doce


O  meu  Rio  Doce  desce
Docemente   na    tarde
Como se as águas dessem
Sussurros  de   saudade.

No  acalanto  das  águas,
Meu  Rio  Doce, cantando,
Leva  todas  as   mágoas
Que em mim vão boiando.

A   derradeira   luz
Se  entorna,  reluz
Nesse meu rio que desce,

Desce lento  e  doce
Como  se  ele  fosse 
A minha própria prece.

 




Porto - por-de-sol


Navios enormes
Silentes dormem
Na noite que vai
Deitando no cais,

E os guindastes,
Imensas hastes,
Levantam braços
Negros de aço,

Içando na tarde
O sol que arde
Vermelho-verão.

E, num movimento,
O guindaste lento
Põe o sol no porão.