domingo, 28 de julho de 2013

No compasso do tempo

No compasso do tempo,
Passo a passo,
A vida passa.

A infância, o menino descalço,
A juventude, beijos, abraços,
É a vida que passa.

Meus brinquedos em pedaços,
Lágrimas que disfarço
Desilusões, enquanto a vida passa.

Os versos que agora faço,
O amor e os desabraços,
Vida vã que passa.

Restam no rosto apenas traços
De dores e sonhos em estilhaços,
Enquanto a própria velhice passa.

E assim, a vida toda passa,
Passo a passo,
No compasso do tempo.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Viagem

Um dia, na primeira estação,
Minha mãe, iluminada,
Comigo no ventre,
Embarcou com meu pai
No trem do destino
Num vagão de segunda classe,
Onde comecei a viagem.

E seguimos pela ferrovia,
Pelos trilhos da vida
Varando o sertão,
Atravessando pontes
Da minha infância,
Arrastados pela locomotiva
Dos sonhos e esperanças.

Ainda menino, fiquei só,
Nessa viagem de ida,
Quando minha mãe e meu pai
Desembarcaram
Pra pegar o trem de volta
Pro meu chão distante
Do meu tempo de menino.

E o trem do destino,
Foi varando os túneis do tempo,
Fazendo escalas nas estações,
Da minha juventude,
Enquanto o cinzel do sofrimento
Foi talhando na minh'alma
A partitura triste da solidão.


E a brisa das ilusões 
Foi enrugando meu rosto,
Entristecendo meus olhos,
E me envelheceu,
Embora, a vida, mesmo doída,
Sempre me pareceu bela e eterna
Nessa viagem do trem do destino.

Nas plataformas, observei a vida em vão
Das pessoas apressadas que vem e vão
Embarcando e desembarcando nesse trem.
Depois, já fim de viagem, vejo cruzarem minha janela,
Vagões voltando abarrotados de saudades,
Enquanto arrumo minha mala
Pra descer na última estação.


 








sexta-feira, 19 de julho de 2013

Amanhecer

Por entre a mata,
A lua de prata
Espia
Rosas e jasmins
Do meu jardim.

E pia
Um bacurau
No meu quintal.

A cotovia
Solfeja o canto
Com o encanto
Do dia.

E a madrugada
Vem alada
E se irradia 
Na sombra da estrada
No canto da passarada
Em sinfonia.

O sol no Leste
Acorda, levanta e se veste
De alegria.

E as luzes em trança
Se enlaçam e dançam
Em harmonia.

E, eu, menino, de olhos fixos
Contemplo o céu-lona de circo,
Onde o sol e a lua
Bailam e flutuam
Num trapézio de sonho
Em que também me ponho.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Anoitecer

Mãos de sol
Recolhem do espaço 
Mantas de nuvens 
E cobrem os barcos 
Ancorados no Porto.

Ao doce ninar
Do balanço das ondas
Que se quebram 
Nas pedras 
Desse cais antigo
Que existe 
No meu peito,
Os barcos adormecem
Nesse mar de mim.

Asas de gaivotas 
Em revoada,
Como pincéis macios,
De lembranças e sonhos,
Vão pintando ao longe
O céu e o mar
Com todas as tintas
Das últimas luzes 
E das primeiras sombras 
Da saudade.

Então, absorto,
Fico a cismar,
O horizonte em arco,
As sombras dos barcos,
Enquanto, lentamente,
Num último movimento,
Um guindaste do Porto
Embarca o sol no porão.









domingo, 14 de julho de 2013

Poemática


O silêncio do meu grito,
O canto dos meus versos,
Voam pelo vazio do infinito,
Pela amplidão do universo,

Enquanto a dor do meu corpo,
Enquanto a dor da minh'alma,
Me tiram a sensação de conforto,
De paz, de esperança e de calma.

E a alucinação que experimento
Transforma as letras do poema
Em gráficos, riscos que invento,
Em números, símbolos, teorema.

Já não grito, já não canto,
Rabisco mil fórmulas práticas.
E para decifrar o meu pranto,
Calculo fórmulas matemáticas.

Agora, em desespero, o poeta
Procura a estrada do destino,
Em linha curva , em linha reta,
E foge de si mesmo em desatino.

Depois procura a fórmula exata,
Das sensações dos sentimentos,
Mas, infelizmente , constata
Que  tudo são ilusões de momentos. 

Por fim, flutua pelo tempo e espaço,
Sonhando com a lei da gravidade,
E que, com  inúmeros traços,
Descobrirá o peso da saudade.



quinta-feira, 11 de julho de 2013

U T I

A mesa de cirurgia,
O bisturi na mão,
Vozes, anestesia,
Luzes, escuridão.

O Nada...

O vácuo no tempo...

Ainda meio tonto,
De volta à vida,
O corte, os pontos
Na carne dolorida.

O silêncio...

O vazio triste da U T I...

Os bips torturadores
Furam os ouvidos,
Aumentam as dores
No meu corpo ferido.

A tristeza insiste...

No vazio que existe na U T I...

Enquanto os bips se repetem no tempo
Das batidas do meu coração,
Eu, segundo por segundo, contemplo
E fico ouvindo o pulsar da solidão.

E com um nó no peito,
Fico cismando, sozinho, assim,
Cada minuto sendo desfeito,
Enquanto a vida foge de mim...









terça-feira, 9 de julho de 2013

Neblina


A chuva leve,
Branca como neve,
Se reparte
Com arte
Em fios de lã.

E a brisa da manhã,
Em seu descanso
Na cadeira de balanço,
Tece,
Fio por fio,
Ponto por ponto,
A manta da solidão.

E eu, então, como uma criança,
Me deito e me agasalho
No colo da tecelã,
Pra esquentar o frio
Que faz
Na varanda dos meus sonhos 
E na paz
Do meu sono.






 




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pensamento

A vida, às vezes, nos prega algumas peças. Quando menos esperamos, somos surpreendidos.
Assim, o tempo passa, nós adquirimos experiência, a velhice vem chegando, então achamos que já temos todas as respostas. Aí, vem a vida e muda todas as perguntas. 

domingo, 7 de julho de 2013

Madrugada

A noite dorme
Num silêncio enorme
No colo macio das sombras,
Enquanto pulsam luzes 
Nos meus olhos que refletem,
E repetem o tic-tac vazio
Que ecoa dentro de mim.

Pela rua nua, depois da ponte,
A passos lentos,
O tempo caminha,
Em sua eterna ida,
Passo a passo,
No compasso 
Dos ponteiros do relógio-vida...

Depois, de capa e bengala,
Feito um ancião,
O tempo segue pela beira mar
E embarca no navio ancorado
No Porto do fim da praia.

E, com o navio, vai embora,
Navegando mar a fora, 
Enquanto as ondas se quebram
Nas pedras do meu peito.

Então, vejo voando longe,
Na linha do horizonte,
A madrugada-alvorada
Que vem vindo...
Como uma ave leve,
Com suas asas iluminadas,
Amanhecendo tudo.

E, feito a luz da Estrela d.'Alva,
Faz um pouso suave ,
Na solidão da minh'alma
E me amanhece também.








sexta-feira, 5 de julho de 2013

Momento

A formiga passeia na mesa
Com a leveza do pensamento
Com movimento , destreza
E rapidez de um momento.
Rodeia o fim de sua rua, longe,
Na última curva do silêncio,
Na última luz do meus olhos,
Depois vira na esquina da solidão.
E eu feito uma sombra
Que se reflete no vidro da mesa,
Sinto que uma formiga invisível,
Volta acariciando meu rosto 
Com as patas macias da saudade.


terça-feira, 2 de julho de 2013