sábado, 31 de agosto de 2013

Derick, meu filho


Meus olhos molhados de esperança
Contemplam  você  agora  no berço,
No  sono  macio  da paz  de criança
Que  me faz  feliz como não mereço.

Diante  de  você,   filho,   eu   sonho
E   me  torno  novamente   menino,
E  na  fantasia  em  que  me  ponho
Matizam-se  cores  do  seu  destino.

Amanhã,   você   já   terá   crescido
E    eu,   certamente,   envelhecido,
Terei   nos  olhos  apenas saudade.

E,  então,   homem   feito,  você  vai
Sentir   o  quanto  foi  feliz  seu   pai
Vendo-o  no  berço da maternidade.

Bruno, meu filho


Vieste de outro mundo, rompendo mares,
O  espaço   infinito  e  o   tempo   eterno,
Superando a  razão  de todos os  lugares,
Argonauta-menino  do  ventre   materno.

Chegaste das estrelas, príncipe-menino,
Num  raio  de luz  e na mágica de Deus,
E de tanta paz nesses olhos pequeninos
Fizeste  esperança  nestes  olhos  meus.

És pólem fecundado de um grande amor,
Criatura   mais   perfeita   do   Criador,
Raro  diamante  de  mais  intenso  brilho.

És  de  tudo  o  começo,  o  meio  e  o fim,
És   minha  alma  dentro   e  fora  de  mim,
Só não és o próprio Deus,porque és meu filho.

Amanhecer no cais do Porto


O guindaste
Em haste
Pende
E suspende
O sol
Como o anzol
Que estira
E tira
O peixe,
Luz em feixe
Da boca 
Oca
Da manhã.

E o arrebol
Espadana
Escamas
Da luz
Que reluz
No ar
E no mar.

Então o dia
Que dormia
Acorda,
Se espreguiça,
Se levanta
E se veste 
No Cais-Leste.

domingo, 25 de agosto de 2013

Mulher - vela branca de jangada


As horas se quebram no meu peito
Como  ondas se quebram no  cais
E  esse  meu  momento  tem  jeito
De  flor de espuma, de flor de paz.

Na   flor  de  espuma,  a  saudade,
E na flor de paz, meu grande sonho,
Que  desabrocha,  que  me invade
Na  fantasia  em  que  me  ponho.

No  sonho  se  opera  um milagre
Quando   o   horizonte   se   abre,
E,  então,  eu  sinto  você  chegar

Como  a vela  branca  da jangada
Que me rasga o peito na chegada
Pra num mar de amor me navegar.

domingo, 18 de agosto de 2013

Viagem



O trem da Vale do Rio Doce
Desce
Pela linha
Vitória-Minas...

O tempo viaja de trem
Nos trilhos das horas,
E, num vagão de segunda classe,
Minha infância embarca
Na estação de Colatina.

O apito da locomotiva
Embala o trem,
E o menino começa a viagem
Com muitos sonhos nos olhos
E uma pequena mala de bagagem...

Faz muitos anos
Essa viagem
Na linha
Vitória-Minas!...
E meu trem ainda não chegou
À estação de destino.

De vez em quando
Uma locomotiva
Cruza minha janela,
Arrastando os vagões das lembranças
Abarrotados de saudades,
De volta à primeira estação...

sábado, 17 de agosto de 2013

Pensamento mergulhão



O rio Tapajós desce
Em silêncio
Com suas águas transparentes.

No espelho da transparência,
Bóia a aparência da vida 
Que depois mergulha...
E borbulham
Bolas de sabão
Bolas de ilusão
No poço fundo dos meus olhos
No poço fundo do meu peito.

Aí, vem o pensamento mergulhador,
Feito pássaro mergulhão
E pesca o peixe no fundo do rio,
Pesca a saudade no fundo de mim
E depois voa,
Voa pro infinito
Levando o peixe no bico
E eu... Eu... Fico...

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Soneto do amor maior


Há um pedaço de saudade em cada canto,
Em  cada  saudade  um  resto  de  espera,
E  em  cada  espera  esse  amor  é  tanto
Que me dói uma dor que antes não tivera.

Me dói a dor de não poder beijar teu rosto,
A dor de não poder abraçar  o  teu  corpo,
Mas por mais amargo que me seja o gosto,
Essa  dor  de  te  amar  é o  meu  conforto.

E, por  me  sentir  assim, eu  encontro paz,
E por  mais que  doa, quero que doa  mais
Nesse  delírio  bom  de  um  amante  louco.

Creia que dos amantes sou o mais contente
E  que  não  acredito  que  alguém  invente
Um amor tão grande nesse viver tão pouco.

Cais

A água
A mágoa
Nas pedras do cais
No eco dos meus ais.

O marasmo
O espasmo
Da onda quebrada
Da vida ancorada
No peito
No Porto.

A espuma 
Como alguma
Lembrança
Esperança
Escorre
E morre
E se quebra
Nas pedras
Do peito 
E do Porto.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Bolas de gude...

O silêncio dorme como uma criança
No colchão macio da madrugada,
Enquanto os anjos do universo,
Cantando antigas cantigas de ninar,
Com um carinho materno,
Estendem a manta enluarada do céu
Enfeitada da luz da Via Láctea.

Abstrato, como um pensamento,
Fico a cismar da varanda da noite
A silhueta da saudade caminhando,
Sozinha, pelas ruas desertas da cidade
Onde, um dia, um menino brincava,
Jogando bolas de gude de sonhos,
Que se perderam na calçada do tempo.





sábado, 10 de agosto de 2013

Canção de agosto




A orquestra do vento na varanda
Toca  a  mais  lúgubre  sinfonia,
Penso que é a tristeza que canta
Nesse imenso palco do  meu dia.

Pelo espaço, voam folhas mortas
Que  o sopro  do  inverno  secou,
E vem voando longe as gaivotas
Trazendo a saudade que sobrou.

O coração que me bate no peito
É o mesmo que batuca com jeito
A  cadência  do  surdo-solidão,

Enquanto a ventania de agosto
Vai secando as lágrimas do rosto
Que brotam da fonte desta canção.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Navegante

Esta noite é um imenso oceano
Por onde navego desnorteado,
Carregando meus desenganos,
Procurando sonhos naufragados.

Sim, sou um navegante a sós
Procurando um Porto pra chegar.
No céu não há estrelas, nem Sol
Pra indicar minha posição no mar.

E vou numa navegação hipotética,
Sem enxergar a linha do horizonte,
Sem ter, a bordo,agulha magnética
Pra indicar o Norte que se esconde.

Súbito, vislumbro a figura tonta
De Netuno, com chicote na mão,
Que vem cavalgando grandes ondas
Que se quebram no cais da solidão.


Pena que esta viagem está assim!
Pois o mar que eu sonhei navegar
Era iluminado do começo ao fim
Pelo sol, estrelas e a luz do luar.

Mas esse meu mar é como a vida.
Nesta noite, já estou em alto-mar,
Mal me lembro do Porto de partida,
E ainda não sei meu Porto pra chegar.

De repente, luzes anunciam a alvorada,
E numa miragem de apenas um instante,
Já avisto no horizonte a Estrela d'Alva,
E marco no céu o ângulo do sextante.


E no rumo certo, chego à boca da barra,
E eu começo a ver tudo o que não via.
Grito, e sinto que meu coração dispara,
Pois meu barco atraca no Porto do dia.

domingo, 4 de agosto de 2013

Dança de Capoeira



Humana filosofia
Num só abraço
Com a magia
Vôo sagrado no espaço
O rito
O ritual
O silêncio do grito
A paz total.
ÉTICA

Africana raça
O olhar arisco
O povo na praça
Raio-corisco
Sobre a terra
O terreiro
A luta a guerra
Zumbi-guerreiro.
ÉTNICA

A precisão dos passos
O balanço
A ginga o compasso
Feroz e manso
Defesa e ataque
Em nota musical
Do atabaque
E do berimbau.
TÉCNICA

O giro no ar
Acrobático desafio
Roda a rodar
Rasteira-rodopio
Risco na retina
Serpente certeira
Voleio em serpentina
Dança-CAPOEIRA.
ESTÉTICA

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Meu entardecer

Da minha varanda
Fico a cismar 
Uma revoada de pensamentos
Leves como penas
Passarada
Em vôo suave
Passarinhada piando
E pousando 
Na árvore do anoitecer.

Fico a cismar
Uma revoada de sonhos
Passaredo
Passarinhos revoando
E Pousando
No travesseiro macio
De um sono bom.

Fico a cismar 
Uma revoada de saudades
Como garças brancas
Que vão pousando uma a uma
Na linha do horizonte
Do meu entardecer.