Esta noite é um imenso oceano
Por onde navego desnorteado,
Carregando meus desenganos,
Procurando sonhos naufragados.
Sim, sou um navegante a sós
Procurando um Porto pra chegar.
No céu não há estrelas, nem Sol
Pra indicar minha posição no mar.
E vou numa navegação hipotética,
Sem enxergar a linha do horizonte,
Sem ter, a bordo,agulha magnética
Pra indicar o Norte que se esconde.
Súbito, vislumbro a figura tonta
De Netuno, com chicote na mão,
Que vem cavalgando grandes ondas
Que se quebram no cais da solidão.
Pena que esta viagem está assim!
Pois o mar que eu sonhei navegar
Era iluminado do começo ao fim
Pelo sol, estrelas e a luz do luar.
Mas esse meu mar é como a vida.
Nesta noite, já estou em alto-mar,
Mal me lembro do Porto de partida,
E ainda não sei meu Porto pra chegar.
De repente, luzes anunciam a alvorada,
E numa miragem de apenas um instante,
Já avisto no horizonte a Estrela d'Alva,
E marco no céu o ângulo do sextante.
E no rumo certo, chego à boca da barra,
E eu começo a ver tudo o que não via.
Grito, e sinto que meu coração dispara,
Pois meu barco atraca no Porto do dia.