domingo, 25 de maio de 2014

Cachoeira

A cachoeira
Em cacho
Coaxa
Pedra abaixo.
A bruma turva
E as bagas de chuva
Trincam o silêncio,
Cristal de grilos,
Peixes
Em feixe,
Esvoaçam em escamas
Na cama da correnteza.
Lembranças, relembranças
Rebrilham e refletem
Na espuma das águas
E sintilam nas lágrimas
Que escorrem
Nas pedras enrugadas
Do meu rosto.
Um soluço de juriti
Chora no meu peito,
Que em redemoinho
Me mói e me dói
Nesse pé de cachoeira
Que me afoga,
Nessas águas-nessas mágoas.

Quando

Quando eu era criança,
Carregava no colo
Um buquê de sonhos.

Quando na juventude,
Carregava nos abraços
Um buquê de paixão.

Sempre carreguei no peito
Um buquê de flores e sonhos,
De paixão e esperança.

Hoje, meio desiludido,
Continuo minha caminhada
Carregando no colo,

O um feixe de flores murchas,
Um feixe vazio de sonhos e paixão,
Um feixe vazio de esperança.

Agora, sem rumo, procuro a vida,
E sigo, carregando no colo
Um buquê de dores.










sábado, 24 de maio de 2014

Eu

De manhã,
Caíram as pétalas da minha infância
Simplesmente caíram sem desabrochar,
Caíram sem cor e sem orvalho,
Sem sol e sem manhã, 
Caíram sem amanhecer
Dentro da noite, dentro da vida,
E apodreceram no meu chão.

Ao meio dia,
Caíram as pétalas da minha juventude,
Simplesmente caíram desabrochando,
Caíram orvalhando-se,
Quando amanhecia
Dentro do dia,
Dentro da vida,
E apodreceram no meu chão.

Ao entardecer,
Hoje, meio desapontado,
Fico regando a vida despetalada,
Com o amor e a água,
Que se misturam à seiva da flor
Que apodreceu nas próprias raízes.


Luar

Agora,  faz  silêncio  no  meu  peito,
Ouço  apenas  os  passos   macios
De uma saudade que vem,com jeito,
Pisando o chão de meus braços vazios.

Agora, o  meu rosto  não  tem  brisa,
Agora,  minha  noite   não  tem  Lua,
Apenas    sua   lembrança    desliza,
Na   intimidade   da   minha   rua.

Agora, minha boca não tem beijo,
Em meus olhos se tece a fantasia
De tudo o que sinto, mas não vejo.

Sim, você chegou, é o que importa,
Vamos  lembrar  o  luar  que   fazia!
Entre!  Deixe  que eu fecho a porta! 





domingo, 18 de maio de 2014

Tempestade no mar

É   calma,   muita  calmaria,
Mas, súbito a   onda cresce
Nuvens negras cobrem o dia,
O  vento  ruge,  escurece ...

As vagas fremem como fera,
Saltam, avançam, escoiceiam
A   proa   altiva    da   galera
Que afunda, range e se alteia.

O  mar  dança  pra  todo lado
Como um Netuno embriagado,
Nas águas que se encapelam.

E  a  nau  bandeia  e  caturra
Feito  um demônio  que  urra
Sob  os  açoites  da  procela.

domingo, 4 de maio de 2014

Um dia...

O amor rói
Carinhosamente 
Dentro do peito
Enquanto existe.

Um dia, o amor 
Construiu um ninho
Dentro de mim
E você veio se aninhar
Como um passarinho.

Mas o mesmo amor
Um dia, desfez o ninho
E você e os filhotes
Saíram em revoada
De dentro do meu peito.

O amor dói
Silenciosamente
No peito vazio
Quando não mais existe.

Então meus olhos turvos
Molham a linha do horizonte,
Enquanto vou escavando
O chão do céu
Tentando encontrar
Aquele amor
Que me roía carinhosamente.

Mas encontro apenas
A solidão 
No infinito de mim mesmo
Onde ecoa, golpe a golpe,
As batidas tristes
De um coração cansado
Que apenas se debate.