terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ovo-Quase poema



Num esforço imenso
Eu penso,
Peno e penso
No que valeu a pena
Esta vida,
Este dia,
Esta noite,
E se vale a pena
Este momento.


Mais que doida
A vida é doída,
E a dor enquanto dói
Me roendo
Me moendo 
É como redemoinho,
No vento e nas águas,
Como serpente no ninho
De espinhos e mágoas.

A dor, de repente,
Me põe em transe
E em metamorfose,
E viro meio ave,
Meio gente,
E me sinto parindo este quase poema,
Como um ovo no cu da ema.
Credo em Cruz!
Como um ovo no cu da avestruz.

O pescador do Rio Tapajós



De  tarde, em cima  do  cais, a  sós
O pescador, na margem do Tapajós
Lança  o  anzol  até  onde  alcança
E  sente o beliscar das lembranças.

Cada  vez mais,  tesa-lhe  a  linha
Onde  o   horizonte   se    alinha :
É  o   peixe  da  saudade,  vadio,
Puxando o anzol,mordendo macio.

De  repente,  o  caniço  se  curva
E seus olhos molhados se turvam
Ante  o  peixe  que  brilha  no   ar.

E   então,  no  ofício  da  pescaria,
O pescador vê que pesca a poesia
No   rio   imenso   do   seu   olhar.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Hoje de manhã


Hoje de manhã,
Meu quarto se encheu de sol
Que teceu no lençol
Seu corpo.

Hoje de manhã,
Meu quarto se encheu de brisa
Feito a sua mão que alisa
Meu corpo.

Hoje de manhã,
Meu quarto se encheu de paz
Feito a vela branca que me traz
Ao seu porto.

Hoje de manhã,
Você me encheu de saudade
Feito o mar que invade
Meu porto.

domingo, 8 de setembro de 2013

Anoitecer numa aeroviagem


Passageiro do tempo, em  viagem,
Bebo  essas  cores  da   paisagem
Que  se  entornam pelo céu a baixo
Em mil pencas de nuvens,em cacho.

E   o   meu   pássaro   de  metal
Voa,  e  com   seu  bico  mortal
Quebra o sol  como um  espelho
Que  cai em estilhaços, vermelho.

Longe,   explode meu entardecer
Que  sobe do  chão e  vem  tecer
Esse   silêncio  triste ,  mormaço.

Minha  noite   salta   do   poente,
Negra,  feito  a   morte -serpente,
E engole a luz e a vida do espaço.