quarta-feira, 26 de abril de 2017

A dor da idade



Na   minha   idade,
Olho    para    trás,
Me dói a  saudade
Que o tempo  traz.

Esse tempo ingrato
Que, lento, me leva,
Rasga meu  retrato
E da  luz  faz  treva.

Dói,  e   como   dói
Essa  mó que moe
Os  cacos da  vida.

Dói  dentro  de mim
Dor da morte, enfim
A  dor   mais  doída.




Marasmo



No meu pensamento a vida anda,
E  nada   no  Canal  de   Camburi,
Enquanto só, no canto da varanda,
Apenas   o    silêncio   me    sorri.

Rajadas de chuva pintam  a noite
Cinzenta,  na  Ponta   do Tubarão.
Venta  um  vento  forte  em açoite,
No meu rosto e no  meu  coração.

Relâmpagos  clareiam  mais  e   mais
As ondas brancas que rolam na praia
E se quebram no meu peito...meu cais.

Esse  cais   onde  agora   me  ponho:
Cais-solidão. Deus! Faça que não caiam
Um  por um, afogados, meus sonhos.

O Canto da Tabuada



              Depois de um longo tempo em silêncio, retorno, trazendo no colo, pra vocês, buquês com flores de saudades, desenganos, ainda viçosas, e outras de sonhos, já murchas.

É assim que conta as contas dos minutos, o poeta Ademar Tavares em seu Canto da Tabuada.


A sala... A lousa trincada em meio,
A mestra... O estudo da meninada...
Batia o sino para o recreio,
Soava o canto da tabuada:

Um e um, dois
Dois e um, três
Três e um, quatro
Quatro e dois, seis...

Como vai longe... Passam-se os anos,
Morrem-me os sonhos, chega a geada...
E eu vou contando os meus desenganos,
Como no canto da tabuada:

Um e um, dois
Dois e um, três
Três e um, quatro
Quatro e dois, seis...