segunda-feira, 28 de abril de 2014

Anoitece

Anoitece
Parece prece
O trilar dos grilos,
O coaxar dos sapos,
O matracar das pererecas,
O grito da saracura,
O cigarrear das cigarras,
O entardecer,
A boca da noite.

O canto dos bichos
Alumiam o jardim,
Como reflexos de estrelas,
Mas o céu está apagado.

Por entre as flores,
Estreleiam os vagalumes,
Pequeninas estrelas
Que ecoam
No chilrear dos passarinhos
Que se aninham
No dormitório da mata.

Então 
As gotas de orvalho
Começam a brilhar
No céu dos meus olhos.

Gaivota

A gaivota
Se solta 
De volta em volta
Na tarde
Que arde
Ao sol 
Girassol
Do verão.

Pequena
Leve como pena
Voa, avoa,
Na leve brisa
A toa
Levitando leve
Ultra-leve
Ao vento
Esvoaçar de penas
Apenas
Pensamento...
E voa suave
A leve ave
Como nada
Dessa vida alada
Que vai
Que voa
A toa 
Como ave...
Pensamento...


O timoneiro

O   timoneiro   de   serviço
Sempre de pé no passadiço
Segura   firme   o    timão
Com a alma e com a mão.

Frente à proa em mar medonho,
As ondas ,se fazendo sonhos,
Marulham   o   tempo   inteiro,
No   coração   do   timoneiro.

De olhos fitos no horizonte,
O   timoneiro  não esconde
A   esperança   de   chegar,

Chegar com o navio seguro
Até   o   porto   do   futuro
Que  existe  depois do mar.

domingo, 20 de abril de 2014

Lembrança de Guarapari

O mar
Imenso mar
Seja como for
Amar...
A onda na praia,
A barra da saia
E o amor
Doce dor
Que se quebra 
Nas pedras
Do meu peito.
O marasmo, 
O orgasmo,
O espasmo
Pasmo...
Só a luz da Lua
Veste
A moça nua,
E tece
Manchas de sol
No lençol desfeito
Feito as ondas,
A macia espuma
Da maré cheia
Que vem nos beijar.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Libertação do amanhecer

Dentro da noite,
Uma paineira gigante
Espana o céu
Tirando as teias de aranha
Que aprisionam as estrelas.
Madrugada... Silêncio...
E tudo fica pronto,
E o céu está limpo,
E as estrelas, livres,
Voam pra longe.
A noite morre,
Num gemido agonioso
De boi acordando o sertão.
Então o dia brota do canto de um galo 
E ,como um criança travessa,
Monta num sol de cinco pernas,
E galopeia pelo céu a fora.


Esperançando

Postei-me antes do monte,
E fiquei a olhá-lo.
Era quadrado, duro,
Era um muro.
Não, não era monte,
Nem era muro,
Era imaginação.
Não era eu a olhar,
Era uma estátua.
Nuvens negras vinham subindo,
Subindo lá de trás.
Várias luas brancas
Como moedas de prata
Que se refletiam na minha estátua
Foram caindo uma a uma,
Lá adiante, sem barulho.
Então a noite veio chegando
Lentamente órfã de luas.
Era eu rico de desesperanças.
Passaram-se milhões de tempos
E eu, estátua, a cismar,
Fui me transformando,
Amolecendo o mármore dos músculos.
Sempre fitando o horizonte,
Comecei a andar,
Depois, a subir o monte,
Escalar o muro,
Pra ver minhas luas caídas.
Mas tudo foi em vão.
E, quando menos cuidei,
Lá no horizonte
Por detrás de mim,
Um rebanho de luas
Vinha amanhecendo 
Prateadas, douradas.
Parei, imaginando.
Além do monte, só o nada,
Aquém do monte, a vida,
E dentro da vida, a esperança.
Então no topo da montanha,
Comecei a edificar uma escada,
Para eu alcançar as luas
Quando passassem por mim.
Assim fiz.
Roubei-as do céu
E pintei-as de verde.

O trem

O trem partiu no tempo.
Ringindo, rangendo, rolando
Rodam rodas rosadas do trem
Por campos, montes novidades.

Pessoas, pontes passando,
Prados postes correndo
E o trem alegre cortando
Vales da minha esperança.

O sol no poente caindo,
Balança seus mil braços,
Num adeus de entardecer,
Para o meu trem que vai.

Lugares, tempos, meu lar,
Ventos, cantos poemas,
E a infância ficou pra trás
Do meu trem do futuro.

domingo, 6 de abril de 2014

Ano Novo

No Ano Novo
O sol nasce como gema de ovo,
E o fogo de sua face
Clareia a clara
Branca como a paz,
Tão pura, tão rara,
Que se faz em vôo,
Lento como nuvem,
Leve como ave,
Vento, algodão...
A luz lava o céu,
Enquanto a brisa leva
A esperança 
Pra dentro do Ano Novo,
E a ave da paz
Para fora do ovo.

Estilhaços

Pedaços de saudades,
Sapatos espalhados,
Estilhaços de sonhos,
Porta-retratos
Se espalham pelo chão da sala,
Como cacos de cristais
E de porcelanas.

Espelhos , imagens tortas,
Minha vida em reflexo,
Fotos em preto e branco,
Marcas, sombras de passos,
Cambaleando pelo chão
Vão indo em vão
Pelos vãos da noite.

Relógios e ponteiros
Sangram os minutos
Que vão morrendo um a um,
Escorrendo pelas paredes,
Enquanto me afogo
Nesse lago amargo
De silêncio e solidão.