Postei-me antes do monte,
E fiquei a olhá-lo.
Era quadrado, duro,
Era um muro.
Não, não era monte,
Nem era muro,
Era imaginação.
Não era eu a olhar,
Era uma estátua.
Nuvens negras vinham subindo,
Subindo lá de trás.
Várias luas brancas
Como moedas de prata
Que se refletiam na minha estátua
Foram caindo uma a uma,
Lá adiante, sem barulho.
Então a noite veio chegando
Lentamente órfã de luas.
Era eu rico de desesperanças.
Passaram-se milhões de tempos
E eu, estátua, a cismar,
Fui me transformando,
Amolecendo o mármore dos músculos.
Sempre fitando o horizonte,
Comecei a andar,
Depois, a subir o monte,
Escalar o muro,
Pra ver minhas luas caídas.
Mas tudo foi em vão.
E, quando menos cuidei,
Lá no horizonte
Por detrás de mim,
Um rebanho de luas
Vinha amanhecendo
Prateadas, douradas.
Parei, imaginando.
Além do monte, só o nada,
Aquém do monte, a vida,
E dentro da vida, a esperança.
Então no topo da montanha,
Comecei a edificar uma escada,
Para eu alcançar as luas
Quando passassem por mim.
Assim fiz.
Roubei-as do céu
E pintei-as de verde.