domingo, 26 de outubro de 2014

Noite em Brasília

 Os minutos transparentes
Batem na vidraça
Como enxame de insetos
Que se estilhaça
Dentro dos meus olhos.
As horas se quebram
Como pedras
Como meteoritos
No abismo vazio
De mim mesmo.
O tempo em silêncio
Leve como o vento
Disfarça os açoites
Que marcam meu rosto
E depois foge na noite
Na carruagem da morte
Rumo ao infinito
Rumo ao nada.
As luzes se banham
Nas teias de aranha
Nos fios da chuva
Colares de prata que brilham
Planalto-Brasília.
E o relógio bate
E o ponteiro reparte
O eco que ondeia
Meia-noite e meia.
E o silêncio infecto
E  a  s o l I d ã o
Pingam do teto
Em monótonas goteiras
Que alagam a casa inteira.